Parte da Entrevista Especial de Crispiniano Neto ao CORREIO DA TARDE


“Não estou vendo... Se você conseguir ver, me avise”. É assim que o poeta Crispiniano Neto se pronuncia, quando instado a avaliar o governo Rosalba Ciarlini. A respeito da divisão da oposição, ironiza: “podemos dizer que quem está dividida é a oligarquia”. Perguntado se criticara a postura de Isaura Rosado, sua sucessora na Fundação José Augusto, debocha: “Não é bem assim. O que critiquei não foi à postura de Isaura. Foi a sua absoluta falta de postura. E de compostura”. Ao definir a Câmara Municipal, detona: “a Câmara Municipal de Mossoró nunca esteve tão ruim. Com raras exceções, é uma camarilha...”. Sobre afirmações das deputadas Sandra e Larissa, não perdoa: “Larissa diz que conversou, a mãe diz que não conversou. Difícil de entender, né? Melhor desconversar. Confira a segunda parte da Entrevista Especial com Crispiniano Neto, e no site do CORREIO DA TARDE - www.correiodatarde.com.br.


CORREIO DA TARDE –  Poeta Crispiniano Neto, o que impediu de realizar obras como a recuperação do Teatro Lauro Monte Filho, quando esteve no comando da Fundação José Augusto?
Vou repetir o que já falei em outras ocasiões. Encontrei a fundação exaurida. Para se ter uma idéia tinha cerca de 1.200 dívidas sem processo nenhum. Tinha um contrato de terceirização de mão de obra que se eu não tivesse suspendido em comum acordo com a Procuradoria do Trabalho, com o sindicato da categoria e a Procuradoria Geral do Estado, teria dado um escândalo maior que o da Operação Hygia. Grande parte dos problemas que deixei ao sair são o saldo maldito do que encontrei. O Teatro Lauro Monte foi traumático, pois quando tive o dinheiro não dava tempo licitar e a procuradoria não permitiu fazer em caráter emergencial com dispensa de licitação. No ano seguinte, encaminhei várias vezes o pedido de crédito suplementar, que era prometido, mas nunca saia. Foi frustrante. Desejo muito que a nova gestão consiga.

O senhor teria feito críticas à postura de sua sucessora na Fundação José Augusto. O que houve com Isaura Amélia?
Não é bem assim. O que critiquei não foi à postura de Isaura. Foi a sua absoluta falta de postura. E de compostura.

Como está vendo a política cultural do governo Rosalba?
Não estou vendo... Se você conseguir ver, me avise. Se alguma coisa existe está no nível da política de segurança, da de saúde, de educação, do programa do leite. Tudo como no poema de Vinícius: “Sem cor, sem perfume, sem rosa, sem nada...”


Vamos falar de política partidária. Como você entrou para a disputa eleitoral e que contagem faz dos votos que chegou a ter?
Antes de entrar para o PT, nunca perdi uma eleição. Depois que entrei, nunca ganhei uma. Peguei o osso. Meu papel foi o de abrir caminhos, de bater com a cara no arame, de destocar o roçado e plantar. Sou como um provérbio que Rui Maurício repete todos os domingos no programa de Nelson Gonçalves: “Não procure me encontrar na hora da colheita, pois já estarei semeando noutro lugar”. Na última eleição que concorri, a de prefeito em 2004, eu ia ser candidato a vice. O PT foi traído na undécima hora. Eu não podia deixar o partido sem candidato. Perdi até o único emprego que tinha conseguido em toda a minha vida, mas cumpri meu papel.

Se convocado, ainda pode voltar a disputar algum cargo eletivo?
Quem tem no sangue o vírus da política não pode dizer “desta água não beberei”, mas, sinceramente, não está no meu horizonte uma postulação política. Nem mesmo cargo de confiança. Descobri que política é para quem não tem o que fazer ou já está com a vida feita. Não me enquadro em nenhuma das duas possibilidades. Prefiro escrever meus versinhos e publicar meus livrinhos. Quem diabos lembra que Jorge Amado foi deputado federal?

Ficou decepcionado com o Avança Mossoró?
Você há de convir que é muito triste entrar numa frente e ser apunhalado por trás...

O que realmente ocorreu naquele colegiado que muitos apontavam como capaz de confrontar os Rosados?
Nós conseguimos dar um nó na política de Mossoró. Mas a corda era fraca e quebrou-se. Tenho pena de Francisco José que perdeu a única oportunidade de ser prefeito de Mossoró. E enterrou sua carreira política naquele episódio. Enquanto isso, o PT saiu derrotado, mas saiu de cabeça erguida.

É possível desfazer a hegemonia da família Rosado na política de Mossoró?
Possível é. O problema é que as forças alternativas que surgem acabam cedendo aos encantos das promessas e quando chegam lá são devorados. Parece que o PT foi o único que conseguiu sair vivo da caverna de Polifemo. Agora tem que enfrentar a fúria de Poseidon. Mas isso faz parte do jogo para quem não se submete ao jugo.

O senhor é dos que consideram que os Rosados se dividiram para impedir o crescimento da oposição e com isto, continuar mandando na cidade?
Sem dúvidas. Pode ver as eleições majoritárias estaduais de senador em 2006 e de governador em 2010. Mossoró fechou de um lado só. Em 2002 pareciam divididos, com Laíre sendo vice de um lado e Carlos Augusto sendo vice do outro. Na verdade jogaram um duplo. Quem fosse para o segundo turno teria o apoio do primo. Mas deu zebra. Vilma ganhou e os dois ficaram de fora. E logo os dois estavam na base do governo. Em 2010 fui testemunha do esforço para fazer Larissa vice de Iberê. Não teve jeito. A família já estava majoritariamente na majoritária. Foi assim com os Montenegros em Assu, com os Costas, em Caicó, com os Alves em Natal. As brigas são aparentes, quando, no ringue, só há parentes...

Agora mesmo que o município se prepara para mais uma campanha eleitoral, temos a deputada estadual Larissa Rodado, já lançada para prefeito, enquanto o outro lado, liderado pela prefeita Fafá Rosado e a governadora Rosalba Ciarlini devem lançar outro nome. Isso não assegura a continuação da família no poder?
Assim como dizem que a oposição está dividida, podemos dizer que quem está dividida é a oligarquia. O risco que corre o pau corre o machado. Uma eleição só está ganha quando o juiz eleitoral apura as urnas. No mundo árabe rola uma primavera derrubando as oligarquias mais longevas da história. No calor é muito difícil uma “prima vera”. Em compensação, pode não ter prima nenhuma...

Alguns setores estão acusando que o PT estaria ajudando aos Rosados, quando lança nome próprio para a Prefeitura. O que você acha?
Acho que o PT ajudou os Rosados na eleição passada, quando, em nome de uma aliança nacional e estadual e passando por cima de todas as idiossincrasias locais, se compôs em torno da candidatura Larissa. O grupo dela acha que não valeu à pena; a militância do PT acha a mesma coisa. Então, agora vamos de Patativa do Assaré: “Cante lá que eu canto cá”. Não se pode confundir “A união faz a força” com “A união se faz à força”.

A deputada estadual Larissa Rosado, depois de uma entrevista sua na Rádio Difusora, afirmou que o PT foi o primeiro partido procurado por ela e seu grupo. O que houve?
Nós queríamos conversar com o grupo quando Iberê precisava de um vice. Ninguém quis nos ouvir. Queríamos conversar quando a coligação liderada pelo partido da deputada lançou a chapa Hugo e Wilma para o Senado. Além de não sermos ouvidos tivemos que ouvir e ver coisas que não condiziam com uma parceria. Ajudamos a eleger um vereador do grupo familiar e nunca fomos ouvidos sobre os rumos deste mandato. Então, o PT foi concluindo que não devia ficar na gôndola esperando o carrinho passar para ser jogado dentro. O PT nasceu para ser protagonista. Na alegria e na dor. Não é de ficar na gôndola nem é de ser jogar de gandula. Conversar é uma coisa, dialogar é outra.

A deputada federal Sandra Rosado teria esnobado uma liderança nacional do PT, dizendo que nunca havia tratado sobre as eleições de 2012 de Mossoró com o mesmo. Estaria faltando diálogo das duas partes?
Larissa diz que conversou, a mãe diz que não conversou. Difícil de entender, né? Melhor desconversar.

Sua opinião é a mesma de muitos petistas que dizem que na última eleição o grupo das deputadas Sandra e Larissa foi beneficiado pelo PT?
Claro que foi. Quando o PT chegou junto não havia nem clareza de que ela seria candidata, tão fragilizada ela estava diante do bafafá de Fafá. O PT levantou a candidatura de Larissa em 2008, agregou 14 mil votos aos que ela tinha tido em 2004. O partido sofreu um grande desgaste por isto, mas ficou firme. Esta contribuição foi desdenhada. Eu fui o maior defensor da aliança naquele ano. Agora estou convencido de que não vale a pena.

Existe da parte de alguns setores, a desconfiança de que o nome do reitor Josivan Barbosa é apenas para valorizar e que o mesmo pode ser o vice da Larissa...
Se valorizar em que sentido? O PT teve a vice na eleição passada. Então pra que se valorizar? O PT não tem a vice porque não quer. Josivam quer ser candidato a prefeito e o PT já decidiu que vai ter candidato próprio. Qualquer outra conjectura é mero exercício de achismo.

Em sua opinião, existe alguma possibilidade de o comando nacional do PT, impor uma aliança do partido com o PSB, em Mossoró?
Não vejo a mínima chance. A autoridade maior do partido, que é o presidente Rui Falcão, já esteve aqui e falou da sua alegria com a candidatura de um reitor provado e aprovado como gestor, para prefeito de Mossoró. Qualquer pressão de fora pra dentro só vai servir para unificar mais ainda o partido em torno de Josivan.

Josivam é candidato para valer ou o PT pode rever o projeto, diante da liderança da Larissa Rosado nas pesquisas?
O PT não costuma pautar suas decisões por pesquisas. Pesquisa orienta rumos, mas não pauta decisões. Veja-se agora o caso de São Paulo: Marta Suplicy com 34% e Fernando Haddad tem 1% e o PT está afunilando em torno de Haddad, cujo perfil é o mesmo de Josivan; o PT já partiu com Maria Luiza, com Luiza Erundina e com Luizianne Lins, todas abaixo dos 3% e ganhou com as três. Os Rosados já partiram com “O Touro” disparado na Arena, que acabou sendo engolido pelo “Capim”. Larissa mesma viu o próprio pai partir absoluto à frente de Rosalba e acabar derrotado. Depois, Ravengar lançou Luis Pinto sem medo da Lei de Murphy e ele acabou derrotado por Dix-huit e Sandra, que ele considerava uma chapa inviável pela idade de Dix-huit e pela rejeição somada de Mário e Sandra. Pesquisa é uma coisa, urna é outra, é como diz Chico Buarque: “É que há distância entre intenção e gesto”.

Qual a posição do PT para a chapa proporcional?
Só tivemos uma posição tão confortável em 1992, quando fui presidente do PT municipal e conseguimos reunir 19 candidatos. Elegemos dois. Agora já temos 22 pré-candidatos e ainda podem vir outros partidos para a somação. E ainda temos a vantagem do aumento de vagas, rebaixando sensivelmente o coeficiente eleitoral. Podemos fazer até três vereadores em 2012. Até porque a Câmara Municipal de Mossoró nunca esteve tão ruim. Com raras exceções, é uma camarilha... Mossoró está com muita saudade do PT na Câmara.

Como o PT recebeu o apoio da deputada Sandra Rosado e seu grupo ao nome de Garibaldi Filho ao Senado, em 2010, quando o partido tinha Hugo Manso disputando o mesmo cargo?
Hugo, que é manso, ficou irritado, imagine os outros. Sandra tinha todo o direito de não votar em Hugo, mas tinha o dever de chamar o PT para conversar. Lembro que na eleição de 2002, depois que Rosalba declarou apoio a Lula, Sandra conversou conosco e apresentou o desejo de apoiar Lula desde que fosse tratada como aliada. Garantimos que ela podia ficar tranquila quanto a isto. Ela não voltou a conversar. Preferiu apoiar José Serra. Depois ficou na base do governo e foi muito bem tratada. Apoiamos Larissa e queríamos a mesma coisa. Ou seja, ser tratados como aliados. Entramos numa campanha onde não tínhamos assento na coordenação, não tínhamos direito de ver as pesquisas. No último comício, houve agradecimentos para todo mundo e “Seu Raimundo”, mas não foi nem registrada a presença do PT na campanha. Depois da eleição nunca fomos chamados a discutir uma ação conjunta. Quando chegou a eleição de senador, foi o ex-governador que a tinha abandonado que mereceu o seu apoio radical. Tão radical que quem demonstrasse qualquer intenção de votar em Hugo Manso era hostilizado dentro do grupo. Então, o PT tinha mais era que tomar semancol.

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