(Anti)slogan

Por Adriano de Sousa
Rosalba Ciarlini recolhe hoje pétalas & sépalas que lhe têm faltado no enrosco de crise que já dura 34 meses. Não se nega a ninguém o direito a uma grosa de rosas natalícias. Mas, no caso da governadora, será refresco raro e efêmero; cessada a reverência protocolar que o poder suscita, ei-la de volta à velha e dura dieta de cardos que, além de servir-se, ela serve ao estado, na gestão errática e apática que exibe índices micarlianos de realização e de reprovação.

Aguarda-a o desafio duplo de (1) fazer alguma coisa acontecer e (2) desemparedar-se, vencendo o isolamento político arquitetado por aliados em debandada e induzido pela catatonia da gestão. A onda de aparições públicas, com um discurso mais agressivo sobre os oponentes, em ambientes e situações de menor risco que os da sonora visita da presidente Dilma Rousseff, é a primeira ação politicamente sensata em meses. Tem o condão de abrir espaços na mídia indiferente ou hostil, além de cavar trincheira na guerra do cenário eleitoral em armação.

Qualquer hostilidade popular será menos danosa do que o acuamento no gabinete, onde o governo não faz e não acontece. Nas ruas, se não há percepção coletiva favorável, haverá ao menos a ilusão de que o corpo a corpo, uma marca pessoal que a Rosa esquecera, pode oxigenar o governo, mantendo a governadora viva na briga de foice para 2014. E de ilusão também se vive, pelo menos enquanto a realidade dorme seu soninho de beleza — até acordar e chamar todo mundo aos carretéis.

Ao abandonar a postura defensiva e adotar discurso agressivo, demarcando diferenças éticas em relação aos velhos (Wilma) e aos novos (PMDB) oponentes, Rosalba parece consciente do dever de disputar a reeleição, com ou sem condições políticas internas, com ou sem respaldo externo.

Se não o fizer, cometerá o mesmo erro de Micarla, que por falta de fibra ou de tirocínio deixou de fazer o que só ela poderia: defender o próprio governo e, assim, firmar um contraponto mínimo ao previsível massacre por adversários e aliados, durante a campanha. Ao refugar o desafio e cair fora sem resistir, a Borboleta deu de barato que todas as suspeitas e mazelas eram verdades absolutas, cristalizando a imagem da gestão indefensável.

O que pega pra Rosalba nesse arremedo de estratégia é o conflito aberto com a cúpula do partido, que acalenta interesses diversos. Em tal contexto, até sua gestão desalentadora parece uma coisica diante do problemão chamado José Agripino. O senador controla o DEM com palavra de rei sobre o partido ter candidato ao governo ou apenas secundar outra legenda (provavelmente o PMDB) em troca de arranjos que salvaguardem na chapa proporcional o futuro do deputado Felipe Maia.

Não é vão supor que, aos olhos de José, a Rosa saiu-se menor do que a encomenda, como gestora e como aliada, desde a formação da equipe (sentiu-se pouco prestigiado) e no desenrolar da gestão (os resultados ruins chamuscam todos os demos).

Frio, Agripino declara aqui e ali, umas vezes com elegância de correligionário e outras com enfado de cético, que a candidatura de Rosalba só depende de ela se mostrar eleitoralmente viável. Tradução: o DEM não acredita que ela recupere as pétalas e não vai arriscar o mandato de Felipe somente para garantir à governadora uma tribuna de defesa.

Essa conta de chegada de Agripino estorva o cálculo de quem faz contas por Rosalba. Na aritmética do secretário Carlos Augusto Rosado, a Rosa poderia, com um tantão de trabalho e outro de sorte, contabilizar mais que uma trincheira de defesa. Numa eleição sem nomes mais taludos (como Garibaldi Alves, Henrique Alves e Wilma de Faria) ela talvez tivesse a chance de — com a força natural da máquina turbinada pelos dinheiros de programas como RN Sustentável, ProInvest e Pró-Sertão — bater competidores de bico menor que bacuraus e araras.

Entretanto, esse mundo cor de rosa parece miragem de verão em Tibau: Rosalba teria que fazer em 8 o governo que não aconteceu em 34 meses, construindo saldo administrativo e capital de imagem capazes de multiplicar-se em votos.

Se considerarmos o passado de inação e o presente de confusão, com dificuldades financeiras e políticas que engolem as escassas boas notícias, é difícil crer no milagre. Por enquanto, tudo o que Rosalba pode é afirmar a honestidade como princípio pessoal e marca distintiva da gestão. Não é pouco, mas não é tudo.
Sem a companhia da competência para transformar o princípio moral em motor de realizações, com trabalho real e resultados concretos, o máximo a que o governo honesto pode aspirar é ter por marca o (anti)slogan: não rouba nem faz.

Fonte Novo Jornal

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